isabelle.
domingo, dezembro 24, 2006
ou
poeira estelar.
ou
gelo fino, fino, fininho.
passos.
silêncio.
coração.
canções de gente solitária.
thin ice.
imagem.
passos firmes, porém indecisos. eu lá ousava ter certeza de alguma coisa? fui tentar a sorte no mundo, que pra gente como a gente vencer na vida era apenas questão de par ou ímpar mesmo.
a verdade é que nunca me haviam dado hora de descanso, até meu sono era inquieto e humilde. e é assim que eu fui, com meu coração a gritar por um pouco de esperança, enquanto meus pais pensavam que eu estava na mercearia a comprar cigarros.
meu pai nunca aprovou o fato de que eu fumava, dizia que não devia seguir seus vícios malditos. fumar um cigarro era sua emoção cotidiana, depois só lhe sobrava arrependimento do próprio orgasmo.
deus do céu, até hoje me arrependo de não ter inventado uma desculpa melhor, ele merecia mentira mais digna de pai, as últimas palavras que trocamos provavelmente lhe doeram o coração.
a caminhada me assustava, meus sapatos repetiam um triste som de adeus que não foi dado. eu nunca soube me livrar de nada que fosse meu, talvez por nunca ter tido muito. até hoje guardava as roupinhas apertadas, as bonecas antigas. e agora, como iria me livrar de casa, família, prato de comida, e tudo pela fraca ambição de ser alguém? apenas fui embora sem pensar demais, que o pensar só me traria uma consciência doída. minhas mãos já doem demais de tanto lavar roupa, pois que não comece a doer meu coração também, que senão sou capaz de cair no meio da rua para nunca mais querer levantar.
o amor se limitou a breves telefonemas para aliviar o peito amargurado, isso quando podia me dar ao luxo. uma vez nem sequer pude ligar para o aniversário de minha mãe. coitada, pariu cinco filhos e eles sumiram nesse mundo, nem em seu aniversário poderia dormir com o alívio de saber que seus filhos estavam bem. ao chegar o dia em que seu corpo não resistirá mais ao tempo, espero que morra dormindo e vire pluma. quero que ela receba toda essa paz que nunca pude lhe dar.
pessoas como eu sofrem dessa inquietação pelo dia de amanhã, o chão nunca está firme para nós. o mundo só se acalma quando apago as luzes de meu quarto de empregada e rezo em busca de um silêncio que não possuo em mim. os pensamentos se aliviam, o corpo parece flutuar e eu durmo, que dormir é a melhor hora do dia, por mais triste que seja afirmar uma coisa dessas, meu deus.
2:00 PM
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